Jovens da Sol Maior
Por Comunicação Intersul2023 - texto e fotos
O Sol iluminou a Casa de Oração São João da Cruz, em Porto Alegre (RS), onde ocorre o Inter-regional Sul 2023 (Intersul 2023), de 23 a 25 de agosto de 2023, da Cáritas Brasileira presente na região Sul do Brasil. Quarenta jovens e adolescentes da organização Sol Maior, com sede na capital gaúcha, abriram o Intersul, com danças, cantos e músicas.
Impossível resistir à força de jovens que periodicamente se reúnem para celebrar a vida, enfrentar os percalços que insistem em empurrá-los para as periferias. Desde 2007, a Sol Maior transforma a perspectiva de futuro de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade de Porto Alegre e arredores. A organização atende 530 alunos simultaneamente em oficinas gratuitas, com acolhimento afetivo e prática de valores como disciplina, responsabilidade, ética e solidariedade. A juventude é preparada para o ingresso no mercado de trabalho através do Projeto Vida.
Os 45 participantes do Intersul, que representa a Redes Cáritas Arqui/diocesanas: regionais dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e secretariado nacional dançaram, cantaram e se encantaram com essa juventude que renova, pela música, o esperançar diante de tantos desafios enfrentados em suas regiões. Desafios, inclusive, de integração de outras juventudes em risco, angústia trazida nas reflexões sobre a análise de conjuntura durante o primeiro dia do encontro, em 23 de agosto.
Participantes do Intersul 2023
Olhar a realidade
Iluminados pelos jovens e adolescentes, por meio de fotos, os representantes dos três Estados foram enumerando clamores sociais e ambientais presentes no dia a dia da Cáritas em cada região.
De Santa Catarina, trouxeram a foto do Porto de Itajaí, responsável pelo transporte do agronegócio, que é responsável por mais de 60% das exportações catarinentes. “A luta é para que o agronegócio dê lugar para a agricultura familiar”, disse Marlise de Souza Lopes Serafim.
Nas fotos de Santa Catarina, apareceram também a insegurança alimentar de cerca de 900 mil pessoas que estão em situação de fome. E imagens que alertaram sobre a presença de neonazistas que se multiplicam e o desafio cotidiano do enfrentamento às desigualdades.
Lúcia Ana Fritzen de Souza ressaltou como, em meio à desmantelação das organizações sociais, a Cáritas e a Comissão Sociotransformadora articularam a Escola de Fé e Cidadania Dom José Gomes, uma conquista da resistência, com 90 participantes.
Mas apareceram fotos também de outras contradições. Florianópolis é a meca do bem-estar social do sul. A foto mostrou Jurerê Internacional. Será? A capital que apresenta um dos maiores IDHs do Brasil tem ainda milhares de moradias em ocupações urbanas que insistem em resistir à especulação mobiliária, mas em condições precárias, que se desmontam com enchentes e temporais.
Porque Santa Catarina, como os demais, é um Estado suscetível a enchentes, também é o território para onde foram 82 mil migrantes. De colonização europeia o estado é recordista em xenofobia e racismo contra novos migrantes e refugiados que chegam. O drama da migração e de refugiados se repete como desafio nos demais Estados.
Enfim, Santa Catarina, Estado em que muita gente se orgulha de viver dizendo que é melhor do que os outros, coloca barreiras para organizar comunidades e discutir direitos.
Para compensar, de lá veio a foto da Casa dos Direitos, um espaço que oportuniza a articulação de todo o trabalho da Cáritas Regional, localizado na área continental, em Florianópolis. Representantes da Cáritas de Santa Catarina mostraram ainda a foto da Carteira de Trabalho para denunciar que a taxa de desemprego subiu no primeiro trimestre de 2023, segundo o IBGE, e a taxa de informalidade segue subindo.
Ali a demarcação do território e a luta de indígenas não é tão visível, mas também se sobressai, tal como no Rio Grande do Sul, por exemplo. E tem ainda os agrotóxicos, a corrupção, os desmatamentos, a ausência de saneamento básico.
O Paraná mostrou fotos de ocupações urbanas em Ponta Grossa, sinal de violação do direito à moradia. Falou da dificuldade de atender a população em situação de rua, que está aumentando, da marcha das mulheres por terra, trabalho e democracia, da realidade de carências e demandas dos povos tradicionais. Por fim, de uma forma geral, falou da urgência do atendimento aos migrantes e refugiados.
E, assim, de foto em foto, chegando ao Rio Grande do Sul, vieram também os clamores diante dos efeitos extremos da emergência climática. Dos alagamentos à seca, da necessidade sempre presente da reforma agrária. “Há dificuldade de acesso à água”, relatou Cinara Dorneles.
“Estamos vendo a migração feminina e a miséria das mulheres com suas famílias”, acrescentou Jacira Teresinha Dias Ruiz. Nilza Mar Fernandes de Macedo abordou a preocupação com a saúde mental de jovens que estão pedindo socorro.
Da abertura do evento, até o final do dia, em meio a tantos desafios recorrentes, a juventude esteve sempre presente como prioridade.
Carlos Humberto Campos, diretor-executivo da Cáritas Brasileira, trouxe para o grupo reflexões sobre duas perspectivas: a da formação de agentes Cáritas, e – novamente – a questão da juventude. “Não podemos perder a dimensão da fé”, observou, lembrando as palavras do Papa Francisco. “E precisamos resgatar a juventude”, reforçou. Com este objetivo, a Assembleia Nacional da Cáritas Brasileira, que será realizada em novembro, em Minas Gerais, está preparando uma Tenda para abrigar jovens, com seus sonhos, suas perspectivas, seus temores e angústias, oferecendo um acolhimento urgente a ser ampliado, conforme foi constatado neste primeiro dia de encontro.
Ildo Bohn Gass, assessor do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)
Iluminar a realidade
Em grupos, os/as participantes se reuniram para dialogar e aprofundar os principais problemas sociais e ambientais presentes na realidade das entidades-membro em cada Regional. Também aprofundaram os clamores comuns ao Inters e as especificidades de a cada um dos três Regionais. Refletiram sobre os desafios e implicações para a ação da Cáritas na Região Sul do Brasil.
O biblista, Ildo Bohn Gass, assessor do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), a partir das partilhas dos participantes, contribuiu na reflexão com a iluminação de textos bíblicos, sobretudo, à luz da ação de Jesus de Nazaré. Ildo reforçou a atenção para que o agir cristão não se afaste de Jesus Cristo.
Iliminados/as pelos textos bíblicos trazidos na reflexão de Ildo, os/as participantes encerraram o dia com a oração na dimensão de olhar e rezar a realidade das violações dos direitos humanos e da natureza.